10.11.10

John Muir Trail - Dia 18

Mount Whitney, Sequoia NP, California, USA

Dia 18 - 09.IX.2010
Início - Wallace Creek (3200m)
Final - Whitney Portal (2500m)
Distância - 40km
Subida - 1600m
Descida - 2200m

Último dia, apesar de ainda não o sabermos. A temperatura nocturna, tal como previsto, atingiu os 7 negativos, mas acordámos debaixo de um sol radioso. Menos mal. Ainda não tinhamos decidido até onde ir neste dia. Dependendo do tempo e do cansaço podiamos ficar no sopé do Whitney e fazer a ascenção no dia seguinte. Ou, se estivéssemos mesmo bem e o tempo continuasse perfeito, seguiamos já hoje. Logo se via. Durante o percurso ainda passámos por locais cobertos de branco, tinha nevado durante a noite em muitas zonas mais elevadas. Como passávamos perto de uma casa de rangers, fomos perguntar que tal ia estar o tempo, agora estava sol mas as tempestades chegam à tarde. Boas notícias, tempo estável, sol e sem vento. Decidimos nesse momento tentar fazer o resto do percurso ainda hoje. Iriam ser 40km em altitude com a ascenção dos 4424m do Whitney, mas estávamos bem e o tempo ia mesmo estar perfeito, era a nossa janela de oportunidade. Subimos ao Guitar Lake, um lago com a forma de guitarra, tal como o nome indica, onde almoçamos. Uma bela massa, a única que sobrava, para termos energia para a brutal ascenção que aí começava. Sobe, sobe e depois sobe mais um pouco. A determinada altura o trilho junta-se ao que vem do Whitney Portal, o local de onde muita gente parte para ascender ao cume num só dia. Acabou assim o sossego das últimas semanas. Terminou a wilderness. Tal como no Half Dome, no longínquo primeiro dia, este pessoal vem apenas com uma pequena mochila e água. Malditos sejam :D Mas a verdade é que com a aclimatação e preparação que tínhamos, e as mochilas já sem comida, e como tal sem demasiado peso, não houve problema algum em acompanhar. O Monte Whitney, apesar da altitude, é tecnicamente muito fácil. O caminho, mesmo quando passa ao lado de precipícios, é sempre seguro, largo, com uma inclinação muito razoável. O cume em si é amplo, redondo, com um abrigo de emergência no topo onde alguns passam a noite para ver o nascer do sol. E as vistas? Desimpedidas, 360º, afinal trata-se do ponto mais alto dos 48 estados contíguos dos EUA, sendo que no Alaska o Denali é bem maior (e mais difícil). Oficialmente este é o fim do John Muir Trail, acabámos! Deste ponto tínhamos no entanto 2000m verticais até chegar à civilização. Foi sempre a correr até lá abaixo, onde chegámos apenas às 8 e tal, já noite cerrada. Os últimos kms foram particularmente difíceis, já de noite, à luz de frontal, o raio do caminho teimava em não descer. Mas desceu mesmo. Um ano de planeamento prévio, 18 dias e 380km a andar. Tinhamos chegado ao fim, exaustos mas felizes, fizemos o mítico John Muir Trail sem incidentes. Adeus, até à próxima ;)

7.11.10

John Muir Trail - Dia 17

Forester Pass, Kings Canyon NP, California, USA

Dia 17 - 08.IX.2010
Início - Vidette Meadow (2900m)
Final - Wallace Creek (3200m)
Distância - 27km
Subida - 1200m
Descida - 900m

Hoje, pela primeira vez, o percurso ia passar acima dos 4000m. Numa longa subida, sempre sem vegetação visível além da ocasional planta rasteira e adaptada à altitude, chega-se aos 4017m do Forester Pass. Tempo de tirar fotografias, mas não pudemos ficar muito tempo lá em cima, dado que o vento começava a levantar e algumas nuvens bastante ameaçadoras aproximavam-se. A esta altitude não podiam trazer coisa boa. Ao passar mais este obstáculo entramos no Sequoia National Park. Logo a seguir ao colo vem uma das secções mais perigosas do trilho, um caminho escavado na rocha com queda directa para um precipício de algumas centenas de metros. Mas este é largo e passa-se bem, no problem. Durante a descida para Tyndall Creek, onde planeávamos passar a noite, já iamos a fugir das nuvens. Encontramos aí um grupo de pessoal na mesma situação que nos diz as previsões: 7º negativos previstos para a madrugada. Muito frio para os nossos sacos-cama de 4º positivos. Foi assim que resolvemos seguir mais para a frente, até Wallace Creek que apesar de tudo, aos 3200m estava a menor altitude que Tyndall. Entretanto já pensávamos no percurso que tinhamos pela frente. Será que o mau tempo vinha para ficar? Com este tempo seria possível ir ao cume do Monte Whitney? Teríamos de esperar em baixa altitude que tudo melhorasse? Tinhamos comida suficiente para a espera? O melhor era dormir e esperar pelas melhoras, logo se decidiria.

O tempo em montanha é sempre imprevisível e pode mudar repentinamente. Nada como estar preparado para o pior. Ainda por cima, sem contacto com o exterior, apenas esporadicamente e através de fontes secundárias iamos sabendo a previsão para os dias seguintes. Ainda tinhamos um rádio mesmo para essas situações, mas captar qualquer estação com informação útil era difícil, se não impossível. Ao menos ficávamos a saber que o pessoal na costa da Califórnia estava na praia com o calor, enquanto tentávamos dormir com toda a roupa no corpo :)

4.11.10

John Muir Trail - Dia 16

Fin Dome e Rae Lakes, Kings Canyon NP, California, USA

Dia 16 - 07.IX.2010
Início - Woods Creek (2600m)
Final - Vidette Meadow (2900m)
Distância - 21km
Subida - 1100m
Descida - 800m

Este foi um dos dias com as melhores paisagens. Saindo de Woods Creek começa-se imediatamente a subir até uma série de lagos que têm em comum a vista desimpedida para o Fin Dome, mais um monólito muito sui generis. No primeiro dos lagos, o Dollar Lake (não faço ideia porquê este nome) parámos para reabastecer energias. Mas tivemos uma surpresa. Um casal de esquilos, completamente destemido, pelos vistos habituou-se à boa comida humana. Assim um saco de trail mix, frutos secos e afins, que deixámos pousado numa rocha, quando nos apercebemos já estava a ser atacado por um esquilo. Ah pois, mais fácil que andar à procura de comida pela floresta, não é? Depois de resolvermos a disputa com os esquilos vieram os outros lagos. Os mais espectaculares serão sem dúvida os Rae Lakes. Uma série de lagos ligados por ribeiros, sempre rodeados por vegetação escassa mas muito interessante, nomeadamente pinheiros antiquíssimos com formas moldadas pelo vento. A subida final para o Glen Pass (3651m) é feita num caminho mais uma vez a aproximar a verticalidade, numa escombreira que segue até o topo. Como tudo o que sobe tem de descer, lá fomos a caminho de Vidette Meadow, onde se chega depois de passar uma zona bastante interessante, meio arenosa e desértica apesar da altitude.

Algo que nos intrigou em algumas partes do percurso foi ver uma série de pessoal com os seus 20 anos a fazer trabalho pesado como seja a manutenção dos caminhos. Grande parte, se não mesmo a maior parte, raparigas. As hipóteses que se puseram foram muitas. Seriam jovens mal comportados a fazer serviço comunitário por delitos menores? Condenados a trabalhos forçados por penas maiores? Ou voluntários? Mas voluntários a partir pedra a mais de 3000m de altitude? Yep, são mesmo voluntários, dos California Conservation Corps. Há uma grande tradição de voluntarismo nos EUA e este é um bom exemplo, pessoal que não tem medo de trabalhar.

1.11.10

John Muir Trail - Dia 15

Pinchot Pass, Kings Canyon NP, California, USA

Dia 15 - 06.IX.2010
Início - Kings River (3100m)
Final - Woods Creek (2600m)
Distância - 19km
Subida - 600m
Descida - 1100m

Este dia foi fácil. Apesar de se subir o Pinchot Pass (3697m), como a noite anterior tinha sido passada a mais de 3000m o desnível foi um dos menores de todos os colos. Quase toda a subida foi feita em área rochosa, despida de vegetação, com os omnipresentes lagos. Uma vez vencido o Pinchot, uma grande descida leva ao Woods Creek, por um caminho que ora se encostava ao rio, ora ficava mais alto, principalmente quando aquele se precipitava em mais uma queda de água. No fim da descida é preciso atravessar o rio. E a travessia é feita numa ponte suspensa, uma miniatura da ponte 25 de Abril (ou para usar o idioma local, da Golden Gate Bridge). O local de acampamento, tal como muitos no Kings Canyon NP, era desta vez mais ou menos "oficial". Apesar de não ter nenhum tipo de construções, tinha uma bear box, onde quem não traga os bear canisters pode deixar a comida a salvo dos simpáticos ursos. É recomendado no entanto acampar a uma certa distância desta "despensa".

O JMT pode parecer uma grande caminhada, com os seus 340kms oficiais (380 com os "acrescentos" que fizemos). Mas o que é mesmo grande é a Pacific Crest Trail. Com mais de 4000km do México ao Canadá, o percurso coincide em parte com o JMT. Quem percorre esta distância de uma só vez fá-lo em 4 a 6 meses. Mesmo assim mais de 100 pessoas atingem tal façanha por ano! Além do PCT, existem também a Appalachian Trail, e a Continental Divide Trail, para quem queira percorrer os EUA de norte a sul a pé.